Em geral, as pessoas levam o concreto mais a sério do que o abstrato, mas é
necessário repartir essa conta. Na hora de educar um filho, por exemplo, regra é
o que mais existe: ensinar a agradecer, a dizer por favor, a se
desculpar. Determinar o tempo para ficar em frente ao computador, cobrar
as lições da escola. Isso e mais uma sequência de eteceteras civilizatórios.
Porém, sempre acreditei que esse manual de instruções terá pouco efeito se a
atmosfera do lar for ruim. É imprescindível uma casa leve, em que os pais não
faltem com o respeito um com o outro, em que as pessoas não engrossem por
qualquer bobagem, onde ninguém humilhe as crianças, em que não se esbanje
xingamentos descabidos e grosseiros. Uma casa em que haja música boa
tocando, com muitos livros, revistas e jornais, um ambiente arejado no mais
amplo sentido: não só com janelas abertas, mas também com cabeças abertas. Uma
casa onde os amigos possam chegar a qualquer hora e serem bem recebidos, uma
casa com cheiro de comida vindo da cozinha e onde os funcionários não sejam
submetidos à tirania. Uma casa onde os membros da família sejam afetuosos
entre si e que tratem os conflitos de forma apropriada: conversando. Ou até
brigando, se for inevitável, mas em privado, sem acordar os vizinhos e
preservando as crianças. Creio que um ambiente desestressado educa mais do que
um regulamento rígido: “Isso pode, isso não pode”.
Dentro dessa linha de raciocínio, tenho reparado também na importância do tom de voz com que falamos uns com os outros, principalmente com os filhos. Podemos dizer a mesma frase com fúria, com ódio, com impaciência – ou com serenidade, com segurança, com amor. A mesmíssima frase: dependendo do tom de voz, serão duas formas totalmente distintas de se comunicar, e com resultados também diferentes.
Dentro dessa linha de raciocínio, tenho reparado também na importância do tom de voz com que falamos uns com os outros, principalmente com os filhos. Podemos dizer a mesma frase com fúria, com ódio, com impaciência – ou com serenidade, com segurança, com amor. A mesmíssima frase: dependendo do tom de voz, serão duas formas totalmente distintas de se comunicar, e com resultados também diferentes.
Há muitos
subentendidos no tom de voz. A pessoa que nos ouve percebe o nosso grau de
comprometimento com o que estamos dizendo. Um simples “não”, se dito de forma
vacilante, não será obedecido. Ficará clara a ausência de seriedade daquela
ordem. Já diante de um “não” categórico, ninguém discute: é rapidamente
assimilado. Vale também para quando os filhos nos pedem algo de que não
estão certos de serem merecedores, ou que desconfiam que não lhes fará bem.
Sentimos na voz deles que o que eles querem, na verdade, é que imponhamos
limite. Estão apenas testando nosso amor. Que desespero quando um filho nos pede
algo absurdo com uma voz hesitante, quase implorando pelo nosso não, e os pais
dizem um sim automático só para se livrar do assunto, sem reparar na sutileza do
jogo que está se estabelecendo. Por não saberem escutar, muitos pais
abandonam seus filhos dentro da própria casa em que vivem.
O tom de voz. A
atmosfera do lar. Prestemos mais atenção no que o abstrato nos informa.
Fonte: Martha Medeiros. Zero Hora - Caderno Donna, p. 34, de 23/09/2012.
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