Não pense que só a criança tem de se adaptar ao
início da vida escolar. Os pais também precisam de um tempo para assimilar essa
nova etapa
Confie na escola
Parece óbvio, mas nem sempre acontece. É o
primeiro passo para que a criança também se sinta segura no novo local. “É como
se a mãe autorizasse alguém a cuidar do filho dela, e é nessa autorização que o
processo de adaptação da família começa a dar certo”, afirma Liamara Montagner,
coordenadora de educação infantil. Para que haja confiança, por sua vez, é
importante que a escolha da escola tenha sido bem trabalhada. Quando é indicação
de amigos ou familiares, fica fácil. Para quem não tem tais referências, esse
vínculo se estabelece na medida em que os pais conhecem e se identificam com os
princípios que norteiam o projeto pedagógico e a concepção de aprendizagem. E,
naturalmente, precisam acreditar nesses valores éticos e morais estabelecidos
pela escola.
Converse sempre com a equipe pedagógica
Não só as crianças, mas também os pais têm de ser assistidos no processo de
adaptação. Esclarecendo dúvidas e conversando sobre eventuais incômodos,
angústias e insatisfações com coordenadores e professores, os pais adquirem
intimidade com a escola e se sentem mais confortáveis em relação a ela.
Aproveite a troca entre pais
O processo de
adaptação é uma oportunidade de os pais se conhecerem, interagirem e
compartilharem sentimentos. Nas conversas, descobrem que as crianças são muito
semelhantes entre si e que eles, por sua vez, estão passando pelas mesmas
angústias. Ao mesmo tempo, vão criando um vínculo no ambiente escolar. “Mães e
pais que têm filhos mais velhos na escola exercem um papel importante nessa
hora, pois passam segurança para os que estão sendo recebidos pela primeira
vez”, diz a psicopedagoga Edimara de Lima, diretora de escola.
Lembre-se de que conquistas requerem esforços
“Existe uma tendência de os pais quererem superproteger os filhos, evitando
ao máximo que sofram. Mas é importante lembrar que o ingresso na escola e as
primeiras separações da mãe ou de casa fazem parte do processo de crescimento da
criança”, afirma Paula Bacchi, orientadora de escola infantil. Ela acrescenta
que os pais devem ter em mente que certas conquistas vêm acompanhadas de
dificuldades. Representam também um amadurecimento da criança, e a escola é um
excelente ambiente para isso acontecer.
Atente para o tom da
separação
Despedidas dramáticas, duradouras e carregadas de emoção
são um prato cheio para dificultar a entrada das crianças na escola.
Independentemente do comportamento delas, os pais devem procurar dar um tom leve
e até mesmo prático às despedidas. Duro, né? Mas é fundamental para que a
criança perceba que não existe a opção de um choro segurar o pai ou a mãe na
escola por mais tempo.
Preserve a rotina da criança em
casa
Não é hora de mudanças de cama, de quarto, retirada de
fraldas, chupeta, mamadeira e coisas do gênero.
Adapte-se aos
horários e tenha assiduidade
“Nos primeiros dias, a pontualidade na
hora de buscar é crucial. Um atraso pode deixar a criança insegura, com medo de
que a mãe não volte, e dificultar a despedida e a permanência nos dias
seguintes”, diz Edimara de Lima, diretora pedagógica. Mesma pontualidade no
início do dia também para que a criança inicie as atividades com o grupo. Evite
faltas, para que a criança se insira logo na rotina escolar.
Tenha cuidado com o que diz – e com o que não diz
Algumas armações, por mais inofensivas que possam parecer, costumam
atrapalhar significativamente o processo de adaptação da criança. Na despedida,
por exemplo, frases como “você vai ficar bem, não é?” ou “você não vai chorar,
vai?” acabam sugerindo à criança que tenha comportamentos desse tipo. Criar
expectativas exageradas, dizendo à criança que ela vai adorar, que a escola é
maravilhosa, que as professoras são fantásticas etc., também pode ser
prejudicial, pois pode gerar decepções para o pequeno. Por fim, nunca minta para
seu filho (dizendo que vai para um lugar caso vá para outro) e, por mais que ele
esteja brincando bem e tranqüilo, nunca vá embora sem se despedir. Isso quebra a
relação de confiança com a mãe e pode gerar na criança o medo de ser abandonada
naquele lugar estranho.
Choros são normais
O choro
não significa que a criança não está gostando da escola. É uma maneira de ela
dizer que é difícil se despedir da mãe. Paula Bacchi, diretora de colégio,
acrescenta que é comum esse choro terminar assim que as mães viram as costas. Se
o lamento se prolongar, vale investigar, claro. Ah, sim, tem muita mãe que
também não agüenta as lágrimas. Mas tem de, pelo menos, não deixar a criança
ver.
Não demonstre ter dúvidas
Comentários
negativos em relação à escola nunca devem ser feitos diante delas. Se a criança
perceber a insegurança da mãe, pode tomar o sentimento para si ou ainda se
aproveitar da situação e recorrer a chantagens emocionais.
Tenha
paciência
A maioria das crianças leva uma ou duas semanas para se
adaptar à escola. Há algumas que levam dias e outras, meses. Isso não quer dizer
que as de adaptação mais lenta vão gostar menos da escola. Significa apenas que
precisam de um pouco mais de tempo. Resta respeitar o ritmo da criança.
Afaste-se por um tempo dos relacionamentos antigos
No caso de crianças que estão mudando de escola, convém, durante o período
de adaptação, não incentivar o contato freqüente com amigos da escola antiga.
Depois de a adaptação estar bem sucedida, o contato pode voltar a ser como era,
mas, no início, é bom dar a chance para o pequeno receber o novo ambiente com
certo afastamento da vivência anterior.
Sem culpas ou
cobranças
Especialmente entre mães que colocam as crianças cedo na
escola por motivos profissionais, a culpa é muito comum. “Mãe trabalhando em
período integral é a realidade de muitas famílias, e a criança terá de conviver
com isso. Não é um mal, mas um componente da família, que gera satisfação
pessoal para a mãe ou, no mínimo, um aumento da renda familiar”, diz a
psicopedagoga Edimara de Lima. Por isso, não é caso de se cobrar em relação às
dificuldades próprias ou dos filhos.
Respeite as
orientações
“É fundamental que os acompanhantes das crianças na
adaptação atendam às solicitações passadas pelas professoras e pela coordenação
da escola”, diz Liamara Montagner. E nos detalhes. Respeite a experiência da
equipe no assunto.
Está tudo bem. Mas acabou?
Um
belo dia, a criança chega feliz à escola, despede-se dos pais, fica bem durante
todo o período e volta para casa lembrando as coisas boas vividas no dia. A
adaptação está concluída? Talvez. É possível que seu filho, que ficou ótimo na
primeira semana de aulas, apresente dificuldades na semana seguinte. Outra
criança pode apresentar problemas dali a 15 dias ou um mês. Segundas-feiras,
voltas de feriados e especialmente de férias também são momentos delicados, em
que choros e reclamações nas despedidas podem voltar a aparecer. O importante,
então, é os pais, como sempre, conversarem com a escola, que vai atentar também
para eventuais jogos emocionais feitos pela criança. Satisfeitos com a escola
escolhida, acreditem que é o lugar onde tudo acontece pelo bom desenvolvimento e
bem-estar da criança.