24 de ago. de 2012

Ai, minha paciência!

 
É inevitável: em algum momento, você perderá a calma. Por mais preparados, tranqüilos, bem-intencionados, bondosos e letrados nos manuais da vida e das livrarias que sejam o pai e a mãe - arrole aí todos os outros qualificativos relacionados ao tema que desejar -, em um belo dia eles perderão a calma, elevarão o tom de voz, serão tomados de profunda irritação ao repetir pela enésima vez a ordem para o banho e dirão algo de que fatalmente se arrependerão depois. Nem a própria personificação da serenidade resiste a uma criança pequena por muito tempo. Resumindo: paciência tem limite.
 
Na época em que tirou as fraldas, Helena, que completa quatro anos em outubro, se saiu bem por um período - sem a contenção durante o dia, aprendeu a segurar o xixi. Dois meses depois, regrediu: chegava a molhar as calcinhas cinco ou seis vezes em apenas uma hora. Bastava o tempo de a mãe largar a muda molhada no tanque e voltar, e então já tinha que trocar a menina outra vez. A relação ficou ruim, e os pais não entendiam o que estava acontecendo. Dias depois, descobriu-se uma infecção urinária.
 
- Morri de culpa, né? Entendi tudo, chorei, conversei com ela, pedi desculpas - lembra Rita de Cássia Osório Gonzales, 36, de Pelotas.
Helena seguiu se mostrando resistente, mesmo depois de medicada e curada. Não pedia mais para ir ao banheiro e continuava molhando roupas e tapetes.
 
- Acidente! - avisava a pequena, debochada, quando era descoberta.
 
- Eu brigava: "Por que você faz isso? Por que não pede? Você sabe!" - conta a mãe. - Ela enfrenta. Eu bato boca, e ela bate junto. Me estresso mais, dou muita explicação. O Paulo diz que não pode e resolve. Sou muito de falar, é difícil ser objetiva - exemplifica Rita, reconhecendo a maior habilidade do marido, o médico Paulo Henrique da Rosa Gonzales, 40, no manejo das pequenas desavenças do dia-a-dia.
 
Com a orientação de uma psicóloga, os bons resultados transpareceram em poucos dias. Hoje Helena está mais tranqüila e obediente, e as turbulências na escola ficaram restritas ao ano passado, quando a turma teve três professoras diferentes. Resta vencer a batalha das refeições. Nutricionista, portanto promotora dos bons hábitos alimentares, Rita não se conforma com as negativas da primogênita. O problema não é que Helena recuse qualquer opção saudável à mesa, mas que às vezes se satisfaça com duas rodelas de tomate ou uma porção de mostarda refogada no almoço. E só.
  
 - Uma vez aconteceu assim: nós duas gritando, mandei ela sentar, botei de castigo. "Senta aqui!", "Não sento!", aí eu sentei ela na cadeira e fiquei segurando, louca para rir, por uns dois minutos - diverte-se a mãe ao recordar. - Quando eu acho que extrapolo, peço desculpa, converso. Talvez ela não entenda 100%, mas eu falo, e o pai também - complementa Rita.
 
 
A criança vai desafiá-lo. Você determina até quando:
     
  • Pais e mães têm suas dificuldades, que podem ser acionadas em determinadas situações - a criança provoca, e o adulto não consegue lidar com isso de maneira tranqüila. Quando o pai está bem internamente, tira de letra. Se teve um dia de trabalho estressante, pode se atrapalhar.
  • É claro que o bate-boca não acarreta um dano irreversível, mas o ideal é que não aconteça. Quando não for possível evitá-lo, tente fazer uma avaliação a respeito depois.
  • Normalmente o que motiva o descontrole do pai ou da mãe não tem a ver com o filho, mas com eles próprios. A criança não é provocadora de propósito, mas por alguma razão. Entre as causas, podem estar a vontade e a necessidade de chamar atenção ou uma fase específica do desenvolvimento pela qual ela esteja passando (e talvez precisando da contenção por parte do adulto, para que aprenda a ter limites).
 

Fonte: Zero Hora - Caderno Meu Filho (21/08/2006).

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